Quando me coloquei em situação de vulnerabilidade eu descobri que estava vulnerável a muito tempo antes, vulnerável a ponto de não enxergar a perspectiva que as coisas da vida estavam me mostrando. Mesmo depois de ter largado emprego fixo em Florianópolis, eu não entendia os motivos reais de fazer o meu projeto, até que entrei em um centro socioeducativo para menores infratores, o CASE. Nesse centro encontrei quatro jovens sem perspectiva de uma vida diferente, vivendo então um mundo emparedado nas cores cinza, vermelho e verde, incluindo o azul dos seus uniformes. Passei o dia com eles com o workshop do projeto, que têm atividades em que eles precisavam escrever e desenhar sobre gostos pessoais, encerrei a manhã me apresentando enquanto mostrava culturas diferentes do nosso Brasil que eu já havia passado, e então intervalo para o almoço. No intervalo o coordenador geral veio me perguntar o que eu tinha feito com aqueles adolescentes que não queriam dormir após o almoço. Fiquei preocupada, o que eu tinha feito de ruim?
Logo o coordenador me acalmou dizendo que era uma coisa boa, normalmente eles querem dormir o tempo todo e estavam animados para fotografar, sendo que nem haviam encostado na câmera ainda. Eles sabiam do desafio que iriam ter no período da tarde: precisavam criar uma série fotográfica a partir da realidade deles.
Quando pensei no desafio do workshop, logo veio na cabeça: O que que eu estou fazendo da minha vida?
O Workshop nasceu da necessidade de atender os centros socioeducativos, mesmo sem entender os motivos. Precisava ser uma vivência de uma dia devido a entrada e saída dos jovens, como também pela segurança. Eu nunca havia entrado em um centro, como também não conhecia ninguém que estava encarcerado, estava pisando em ovos enquanto explorava território novo. Hoje posso garantir que foi a primeira experiência incrível que tive na minha vida e com o resultado podemos sentir os motivos:
Série 01: "Quex-Quex". A vida de uma família de quero-quero dentro de um sistema prisional de Florianópolix.
Série 02: Retratos da Esperança, retratos são apenas do rosto? Fotos de um jovem que quer ter uma família.
Ângela: É, é aí é que eu me encontro, nesse sorriso que eu me procuro, na satisfação de não conseguir organizar o meu caos, mas poder compartilhar ele com quem precisa apenas dele e de um motivo. Encerrou o dia com um abraço inesperado e um agradecimento por não desistir dele, jovem que eu nem conhecia. Chorei no ponto de ônibus, PORQUE NÃO PRECISAMOS PARECER FORTES O TEMPO TODO. Amar, agradecer e sentir não significam tolerar em tempo integral. LIMPAR, FILTRAR, SUPERAR E FAZER A DIFERENÇA, essa é a vida.