O cinema foi contextualizado para ser a arte imitando a vida, algumas vezes até a vida imitando a arte com referências nas ficções científicas. No nicho de gêneros, vieram os documentários para retratar a realidade nua e crua. Algumas vezes tachados como chatos, os documentários do século XX foram reinventados e vistos com novos olhares, técnicas e espectadores no século XXI. Hoje já podemos assistir produções mais artísticas sobre a realidade e não deixando de ser parcial com a subjetividade. Exemplo claro é na nossa primeira indicação "Doméstica", em que o diretor em vez de exercer o cargo de orientação na produção, destinou suas câmeras para jovens que nunca tiveram experiência com elas, mas sim com a realidade que vivem. Doméstica, 2012 - Gabriel Mascaro é um documentário sobre a relação de poder com o “quase da família”. Sete jovens recebem em mãos uma câmera cada para registrar a relação deles com a empregada da família e mesmo com uma ideia simples, a montagem ficou muito boa e acabamos sofrendo junto com as empregadas, mesmo sendo o ponto de vista dos contratantes.
Disponível para aluguel nas plataformas do YouTube e Google Play, por R$ 3,90.
02 - Guerras do Brasil.doc - 2019, Luiz Bolognesi: série documental com 5 episódios de 25 minutos cada, contando sobre importantes marcos históricos do Brasil. Importante e necessário.
Disponível na Netflix.
03 - Elena - 2012, Petra Costa: antes de ser conhecida pelo documentário “Democracia em Vertigem”, Petra foi premiada pela história da sua irmã, Elena. Elena foi uma jovem sonhadora que decidiu ir para Nova York para ser uma grande atriz. Pela sinopse você acha que ela está contando essa história, mas no final das contas ela está fazendo uma reflexão intensa e imersiva sobre a depressão - faz você rever sentimentos que você nem sabia que tinha, então recomendo assistir somente quem estiver com uma boa taça de vinho por perto, ou uma garrafa talvez. A todo momento você não tem a certeza que a irmã morreu, apenas representações que leva a entender, mas faltando vinte minutos você tem a certeza da morte e a forma: suicídio. Então são os vinte minutos mais longos da sua vida, já que você imergiu no sofrimento da irmã que ainda vive. Qualquer palavra que eu venha falar agora parece ser não composta por uma boa frase após assistir a poesia desse audiovisual, recomendo ele também para entender um pouco mais sobre como o "Democracia em Vertigem" é uma visão da diretora e não generalizada.
Disponível na Netflix
04 - Bandidos na TV - 2019, Daniel Bogado: Wallace de Souza é o nome do repórter que ficou famoso por seu lado sensacionalista ao contar sobre as guerras do tráfico e os assassinatos que ocorriam na cidade de Manaus, no Amazonas. Como ele não demonstrava medo, ele começou a ser chamado pela comunidade para retratar o que estava acontecendo em vez da chamada para a polícia. Após popularidade do seu programa, ele candidatou-se para deputado para assim ter mais poder em resolver as situações das quais ele era chamado e que ele "matava" pela audiência. O caso do Wallace dividiu Manaus entre quem acreditava fielmente nele e em quem o condenava. Ele foi condenado por vários crimes relacionados ao tráfico com alegações de que ele era o mandante, já que o mesmo conseguia as informações antes da polícia. Alguns dizem que o erro dele foi mexer com gente maior da política e outros acreditam na polícia com provas nada conclusivas, até mesmo direcionadas para as acusações restritas ao filho. O série documental foi dividida em 7 episódios com a média de 50 minutos cada e lanço o desafio: assistir e me ajudar a decifrar se ele realmente foi culpado ou se foi julgado injustamente.
Disponível na Netflix
05 - O Barato de Iacanga, 2019 - Thiago Mattar: O documentário conta como os festivais foram originários no Brasil. Criado por Leivinho na fazenda da família em Iacanga, interior de São Paulo, o Festival de Águas Claras ocorrido em plena ditadura pelo hipster sobreviveu por três edições, última em 1983 e até hoje é considerado um dos maiores festivais brasileiros já ocorridos, dito até mesmo como o Woodstock brasileiro. É um recorte da contra-cultura brasileira, com nomes como Raul Seixas, Gilberto Gil, Moraes Moreira e até mesmo João Gilberto - o músico mais recluso do Brasil que odiava fazer shows, então foi um grande marco. 100 mil pessoas e 12 mil pagantes apenas, então conta também sobre os problemas financeiros.
Plataforma para Assistir: Netflix.
06 - Série Além das Lentes, 2017 - 2020, Ângela Reck: Texto escrito por Matheus Levi, Salvador - BA.
Para falar da série em áudiovisual Além das Lentes, precisamos comentar primeiro a bagagem que ele trás consigo, que seria o projeto todo em si. Esse projeto é idealizado e administrado pela Ângela Reck, que introduz o ensino a comunidades mais carentes a cultura cinematográfica e fotografia, usando sempre o que dispõe de identidade nessas comunidades. Essas atividades constroem um caderno criativo, que é mostrado através de fotos, desenhos, vídeos e textos, assim sendo disponível para a própria comunidade e também no site do projeto. A série Além das Lentes contém, por enquanto, 2 episódios, um se passa em uma comunidade ribeirinha na Amazônia, que fica a 35h de viagem a barco de Manaus, onde não tem energia elétrica e nem saneamento básico e outro na fronteira de Roraima com Venezuela, que na maioria aborda a vida dos refugiados e a sua sobrevivência em um lugar novo com cultura e língua diferente. Neles mostram comunidades visivelmente com algum tipo de necessidade, que apesar de sempre ser introduzido com a voz de Ângela nos primeiros minutos, os vídeos começam a extrair o seu olhar para aquela perspectiva, que se apresenta com apenas falas de moradores locais, de sua vida, personalidade e do que observa sobre a sua própria comunidade, como nos transpuséssemos “além das lentes” e nos colocássemos na perspectiva da filmmaker, mas a nossa própria visão, em nossa própria leitura do que estamos vivenciando/assistindo. A depender da sua visão, a série não é vista completa sozinha e sim é uma parte do que se faz parte de um grande projeto que se estende para salas de aulas e o já mencionado caderno criativo, além de algumas vezes o áudio não ter sido tão bom, entendível pela necessidades que foi filmado, porém poderia vim com legendas, assim aumentando até a acessibilidade para deficientes auditivos. No mais a série é inspiradora e de um enriquecimento único pela experiência transportada para aquele que assiste a cada episódio de um novo mundo em nossa própria terra.
Disponível e gratuito no YouTube.
07 - VIPs, 2010 - Toniko Melo: Assisti o filme sem saber que era baseado em uma história real, história do vigarista Marcelo Nascimento Rocha. Com o mesmo nome do filme, VIPs: Histórias Reais de um Mentiroso, existe um documentário também e meu conselho é assistir o filme primeiro e depois o documentário, no documentário vai esclarecer muitas coisas, como por exemplo a relação com o pai. Você assiste o filme com tons mais sérios, com atuação muito boa do Wagner Moura e quando assiste o documentário ele é com tons de ironia e risos - bem mais leve. Lembrando que o filme é baseado na história, nem tudo é real. Não posso deixar de comentar como Wagner Moura tem o dom de protagonizar filmes em que por trás já existe um documentário, como o lançamento de 2020 na Netflix: Sérgio.
Todos disponíveis na Netflix.
Ainda precisamos evoluir muito, principalmente na democracia ao acesso à nossa própria história que vem sendo registrada por olhares criativos, mas espero que com essas indicações, possamos ver um Brasil diferente do convencional e principalmente sobre a valorização de uma área que vem crescendo no nosso cenário cinematográfico, inclusive concorrendo premiação do Oscar. Continue nos acompanhando em nossas redes sociais:
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