Série Documental

Chapecó, SC

Mãedrasta, amor de mãe em atos.

Texto e fotos por Ângela Reck


Susana Maria é o nome dela. 

Ela tem o amor transparente no sorriso. Ela tem a alma eterna de uma criança que faz qualquer clima ser divertido. 

Ela vive nos pequenos detalhes dos sonhos, não teve uma história fácil e aprendeu muito com cada momento - desconstruir-se para construir.

Ela saiu do hospital com seu segundo filho no colo, seu primeiro na mão, com um marido com definição diferente da minha de presença e foi recepcionada por uma menina que havia perdido sua mãe, com seus cinco anos. Passou por cada coisa que só Deus sabe. Passei minha adolescência odiando ela por ser crítica na minha educação e por não sentir ser amada como eu merecia. Hoje em dia entendo cada posição dela, cada sentimento e cada puxão de orelha. Agradeço ela por ter me ensinado e por ter me incluído nessa família. Ela diz que tem orgulho de mim, mas ela é que me orgulha e fez de mim quem eu sou hoje. Quem vê as duas unidas hoje em dia não sabe o quão difícil foi aprender que não é só de sangue que é ser uma mãe: simbologia do amor de mãe versus tabus internos. Nessas viagens da vida, escutei muitas pessoas falando que cresceram sem mãe e que ninguém poderia ocupar o lugar, a minha percepção é que não deveria ser sobre ocupar lugar, mas sim sobre poder sentir o amor que uma mãe tem, amor em atos:

Ato 01: ser nova, ter dois filhos e cuidar de uma filha surpresa que chegou de um relacionamento conturbado anteriormente. Criar tradições em assistir filmes românticos cafonas só para reunir a família e satisfazer o gosto dessa mãe. Proibir filmes de terror, falar sobre as escolhas de amizades e uma dica para os jovens: se a tua mãe chamar para dormir junto é desculpa para conversar sobre namoradinhos - “se ele te beijar e sentir um chiclé, é catarro Ângela, não vá beijar no inverno”, pode ser um relato traumatizante. Massagem no pé, não podemos esquecer.
Ato 02: entender quando sua filha quer sair de casa com dezesseis anos e então abrir as portas dessa casa para quando essa filha retornar, mesmo que esse retorno venha a demorar dias, semanas, meses ou até mesmo anos - o que já aconteceu. Não podemos deixar de destacar o melhor conselho: não seja puta e nem drogada.
Ato 03: nos momentos mais difíceis, ser a maior apoiadora mesmo sabendo que a quer por perto. Apoio esse que pode ser com palavras, com um áudio longo cheio de carinho ou sábias palavras que nem sempre estamos prontos para ouvir, um beijo matinal de bom dia, um cafuné enquanto assiste um filme - criar vínculos. Encontrar o melhor sorriso de cada uma na outra, até os pés de galinha.

O ato final é um capítulo sempre novo a ser escrito nessas histórias reais, de mães reais, que trocam sentimentos - ruins ou bons. Amo a minha mãedrasta e cada cantinho da nossa história, mas principalmente os episódios que eu penso: “ainda bem que fui educada assim”, obrigada por ser tão você e sempre receber esse tão eu! Meu agradecimento em atos é presentear ela com um ensaio fotográfico todos os anos do jeitinho que ela gosta: sorrindo muito, e é isso que me deixa feliz. Fotografando ela eu pude perceber como estamos evoluindo como pessoa para muito mais além do que o físico - mesmo achando que ela sempre está lindamente igual.


UMA FOTO NOSSA E OUTRAS FOTOS DE ALGUNS ANOS: